Justiça torna prefeito de Alto Alegre inelegível por compra de votos em eleição suplementar
19/12/2025
(Foto: Reprodução) Wagner Nunes, candidado a prefeito de Alto Alegre na eleição suplementar de 2024
Caíque Rodrigues/g1 RR
A Justiça Eleitoral de Roraima tornou o prefeito de Alto Alegre, Wagner Nunes (Republicanos), inelegível por oito anos por compra de votos nas eleição suplementar de 2024 no município. A decisão é dessa quinta-feira (18).
A sentença foi assinada pela juíza eleitoral Sissi Marlene Dietrich Schwantes, da 3ª Zona Eleitoral, e julgou parcialmente procedente a ação movida pelo MDB, contra o prefeito e o vice à época, Max Queiroz Silva.
Além da inelegibilidade, foi aplicada uma multa de R$ 53,2 mil e a anulação dos votos recebidos. A magistrada também decidiu pela cassação, mas considerou a medida sem efeito prático tendo em vista que os mandatos suplementares de prefeito e vice-prefeito se encerraram em 2025.
O g1 procurou Wagner, mas ele não respondeu até a última atualização da reportagem. A decisão ainda cabe recurso ao Tribunal Regional Eleitoral de Roraima (TRE-RR).
🗳️ Após concluir o mandato suplementar, Wagner foi reeleito agora com um mandato efetivo nas eleições municipais de 2024 com 6.983 votos (61,79 %). A decisão não o afasta da função atual.
A sentença citou ainda o "uso indevido da máquina pública estadual", com envio de servidores de diversos órgãos do Governo de Roraima para atuar em Alto Alegre durante o período eleitoral.
Servidores foram enviados ao município durante o horário de expediente, com pagamento de diárias, em ações consideradas de nítido caráter eleitoreiro, de acordo com a decisão. Entre os órgãos citados estão:
Secretaria de Saúde (Sesau);
Instituto de Terras e Colonização de Roraima (Iteraima);
Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural (Iater),
Departamento de Trânsito de Roraima (Detran);
Fundação Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Femarh);
Polícia Militar (PM).
👉 A eleição suplementar no município ocorreu após o então prefeito Pedro Henrique Machado e a vice dele serem cassados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por compra de votos. Nesse contexto, Wagner, que é engenheiro civil, foi eleito prefeito de Alto Alegre com 4.702, 53,60% dos votos.
👉 Durante a campanha, Wagner Nunes teve como principais apoiadores o governador de Roraima Antonio Denarium (PP), e os senadores Mecias de Jesus (Republicanos) e Hiran Gonçalves (PP).
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Compra 'massiva' de votos e uso da máquina pública
Na decisão, a magistrada afirma que ficou comprovada a existência de uma “verdadeira engrenagem destinada à massiva compra de votos”, com atuação organizada de coordenadores de campanha, uso de dinheiro em espécie e até fornecimento de combustível como forma de aliciamento de eleitores.
Segundo a sentença, eleitores eram obrigados a enviar foto do título eleitoral, com zona e seção de votação, como condição para receber o pagamento, o que, de acordo com a juíza, funcionava como um instrumento de pressão para garantir o cumprimento do voto prometido.
A magistrada também destacou que a prática ocorreu mesmo com a presença reforçada da Polícia Federal no município, que atuou com força-tarefa durante o período eleitoral e realizou prisões em flagrante por corrupção eleitoral.
“Instalou-se nessa cidade verdadeira orquestra destinada à captação ilícita de votos, com objetivos bem delineados e metas a serem cumpridas”, diz trecho da sentença.
A Justiça também analisou a tentativa de inauguração do ginásio poliesportivo de Alto Alegre em período vedado, já com o processo eleitoral suplementar em curso. Para a magistrada, o ato teve caráter eleitoreiro e contribuiu para a configuração do abuso de poder político.
Por outro lado, a juíza afastou irregularidades em eventos ocorridos antes da definição oficial do calendário eleitoral suplementar, como uma visita a uma obra em comunidade indígena no mês de fevereiro de 2024.
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