Defesa de empresário preso com 103 kg de ouro diz que ele é 'trabalhador' do 'setor mineral'
05/08/2025
(Foto: Reprodução) PRF apreende ouro avaliado em cerca de R$ 60 milhões em Roraima
A defesa de Bruno Mendes de Jesus, de 30 anos, preso com 103 kg em barras de ouro, afirmou que o empresário é "trabalhador" que atua no "setor mineral". Bruno foi preso pela Polícia Rodoviária Federal em uma apreensão histórica. O minério foi avaliado em R$ 61 milhões pela cotação atual do Banco Central. (Leia a nota na integra abaixo).
"Trata-se de trabalhador que, como milhares de brasileiros, atua em atividades relacionadas ao setor mineral, que embora possam se desenvolver em áreas de tensão regulatória, são, para muitos, meio de subsistência e única alternativa de sobrevivência", disse, por meio de nota, a defesa de Bruno.
Ele dirigia uma Hilux ano 2024 quando foi preso. Levado à Polícia Federal, Bruno ficou calado. Natural de Rondônia, ele tem uma empresa varejista de artigos de vestuário e acessórios.
Quando foi abordado pela PRF, disse ser fiscal de obras e afirmou que havia saído de Manaus para verificar uma construção, mas não soube informar o nome ou o endereço da obra que seria fiscalizada. Ao chegar à PF, não disse mais nada. Ele foi acompanhado por dois advogados desde o momento da abordagem até o procedimento na polícia.
Na nota enviada ao g1, um dos advogados de Bruno, Smiller Rodrigues de Carvalho, afirmou que o empresário "é cidadão primário, de bons antecedentes, pai de uma criança de apenas 9 meses de idade, e único responsável pelo sustento de sua família, a qual se encontra em situação de fragilidade social". A defesa ainda não entrou com o pedido de liberdade.
"Não se pode ignorar que o garimpo, ainda que careça de regularização em diversos casos, é responsável pela sobrevivência de milhares de famílias em regiões afastadas e desassistidas pelo Estado, sendo, portanto, uma questão social complexa que demanda políticas públicas estruturadas e soluções legais, e não apenas repressão penal simplista", consta na nota.
O empresário Bruno Mendes de Jesus foi preso com barras de ouro em Hilux em Rondônia
Montagem/g1
A apreensão dos 103 Kg de ouro foi a maior feita pela PRF em todo o país. As barras de ouro estavam escondidas em fundo falso no painel e em outros compartimentos da caminhonete, como no porta-objetos.
O carro dirigido por Bruno é da empresa AJL Transportes, de Manaus, no Amazonas.
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Maior apreensão de ouro no Brasil
Bruno dirigia a caminhonete quando foi parado pela PRF na altura da ponte dos Macuxis, na BR-401, por volta de meio dia. No veículo também estavam a esposa e o filho do motorista, de 9 meses.
Bruno Mendes de Jesus, de 30 anos, foi preso com ouro escondido em Hilux
Reprodução/Facebook
Durante a abordagem, Bruno apresentou sinais de nervosismo com a entrevista dos agentes da PRF. Eles suspeitaram de inconsistências na documentação apresentada por ele e decidiram fazer uma busca mais detalhada. Foi então que localizaram as barras de ouro escondidas - a maior parte estava no painel do carro.
"Fizemos a abordagem e, ao verificar o interior do carro, percebemos sinais de que algumas partes haviam sido mexidas. Isso nos levou a aprofundar a inspeção. Esses veículos geralmente fazem parte de rotas já mapeadas, mas a PRF está sempre patrulhando e utilizando técnicas policiais para identificar comportamentos suspeitos. Foi o caso dessa abordagem", explicou o agente da PRF, Rodrigo Magno.
A apreensão dessa quantidade de ouro foi a maior feita pela PRF no estado. A segunda foi de 21 kg de ouro ilegal em barras, em junho de 2024. À época, duas pessoas foram presas. Elas estavam com 33 barras.
"A gente sabe que em Roraima é a maior apreensão. Apesar de ter várias ocorrências com ouro em garimpo, essa é a maior apreensão de ouro até agora", informou Rodolfo Magno.
O minério apreendido foi encaminhado à sede da Polícia Federal para investigação. Ainda não se sabe a origem nem o destino do ouro. A caminhonete, uma Hilux ano 2024, não estava registrada em nome do motorista preso. A PRF não divulgou a quem pertence o veículo.
Apreensão de barras de ouro soma 104 kg em Boa Vista
Caíque Rodrigues/g1 RR
Nota da defesa de Bruno
A defesa técnica do Sr. Bruno Mendes de Jesus, através dos advogados Smiller Rodrigues de Carvalho - OAB/SP 525.662 e OAB/RR 2.008 - e equipe, vem, em respeito à sociedade e à imprensa, e, esclarecer e se manifestar sobre os fatos relativos à prisão em flagrante de seu constituinte.
O Sr. Bruno é cidadão primário, de bons antecedentes, pai de uma criança de apenas 9 meses de idade, e único responsável pelo sustento de sua família, a qual se encontra em situação de fragilidade social. Trata-se de trabalhador que, como milhares de brasileiros, atua em atividades relacionadas ao setor mineral, que embora possam se desenvolver em áreas de tensão regulatória, são, para muitos, meio de subsistência e única alternativa de sobrevivência. É necessário ressaltar que a extração mineral, por si só, não é uma atividade imoral ou criminosa em essência. O que a legislação veda, nos termos do Código Penal e da Lei de Crimes Ambientais, é a exploração de recursos minerais sem a devida autorização legal e sem o cumprimento das obrigações ambientais e tributárias. Ou seja, a ausência de regularização documental é que transforma a atividade em infração administrativa ou penal, e não a atividade de garimpo em si, que é uma realidade histórica e socialmente enraizada em muitas regiões do Brasil.
Não se pode ignorar que o garimpo, ainda que careça de regularização em diversos casos, é responsável pela sobrevivência de milhares de famílias em regiões afastadas e desassistidas pelo Estado, sendo, portanto, uma questão social complexa que demanda políticas públicas estruturadas e soluções legais, e não apenas repressão penal simplista.
A defesa confia que, no decorrer do processo, os fatos serão devidamente esclarecidos, rechaçando qualquer tentativa de criminalizar pessoas humildes que, embora atuem em setores economicamente marginalizados, não possuem envolvimento com organizações criminosas ou atividades que atentem contra a ordem pública.
O Sr. Bruno se colocou à disposição da Justiça e enfrentará as acusações com serenidade, acreditando nos princípios constitucionais do devido processo legal e da presunção de inocência, aguardando que sua conduta seja analisada com a ponderação e equilíbrio necessários, sem pré-julgamentos.
Por fim, a defesa reafirma seu compromisso com a verdade, com o respeito às instituições e com a luta pela dignidade de trabalhadores que buscam, no garimpo, uma alternativa de sobrevivência diante da ausência de políticas de desenvolvimento social e econômico eficazes.
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