Artesão indígena é confundido com condenado por estupro e fica 11 dias preso por engano em RR: 'Humilhado e sem chão'

  • 17/10/2025
(Foto: Reprodução)
Artesão indígena é confundido com condenado por estupro e fica 11 dias preso por engano em O artesão indígena Wapichana Leonel José da Silva, de 52 anos, ficou 11 dias preso por engano após ser confundido com um homem condenado por estupro de vulnerável, em Boa Vista. O verdadeiro procurado tem o mesmo nome de Leonel e ainda não se sabe o paradeiro. Preso pela Polícia Civil, o artesão foi levado à Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc), o maior presídio de Roraima. O erro da prisão foi reconhecido pelo Tribunal de Justiça de Roraima (TJ-RR), que determinou a liberdade. Agora, ele pretende processar o Estado em busca de reparação: "Ser tratado como criminoso foi uma das piores coisas que já vivi". O g1 procurou a Polícia Civil e não obteve resposta até a última atualização da reportagem. Em nota, o TJ-RR informou que ao identificar a inconsistência "determinou a expedição imediata do alvará de soltura, cumprida em 27 de setembro de 2025". Além disso, "determinou o envio dos autos à Corregedoria-Geral de Justiça, para apuração administrativa e correção dos registros judiciais." Leonel foi preso no dia 17 de setembro no bairro Aracelis Souto Maior, zona Oeste de Boa Vista, onde vive com a família. Ele foi solto no dia 28 de setembro deste ano. O erro na prisão foi percebido pelas advogadas de Leonel após análise do processo. Um vídeo registrou o momento em que o artesão foi solto e recebido pelo filho mais velho, de 30 anos. (Veja o momento acima). A prisão foi resultado de um erro de cadastro no sistema judicial. Documentos do processo mostram que o mandado de prisão foi expedido contra outro homem, também chamado Leonel José da Silva, conhecido como “Zé do Óleo”, condenado em 2013 pelo crime de estupro de vulnerável. O artesão não tem nenhuma relação com o caso. “Eu estava em casa, trabalhando na construção, quando os policiais entraram e já me algemaram. Nem quiseram ver minha identidade. Me trataram como criminoso”, contou Leonel ao g1. Leonel José da Silva, de 52 anos, é indígena Wapichana e foi preso por engano em Boa Vista Arquivo Pessoal Segundo ele, o mandado foi cumprido sem verificação de dados básicos, como RG e CPF. Leonel contou que foi levado sem que a família soubesse o que estava acontecendo. “Eu fiquei sem entender nada. Eles só perguntaram meu nome e disseram: ‘É ele’. Aí já mandaram eu tirar a camisa e me algemaram. Eu falava que era inocente, mas não quiseram me ouvir”, lembrou. De acordo com a decisão do habeas corpus, assinada pelo desembargador Erick Linhares, houve “prova inequívoca de que o paciente não é a pessoa processada e condenada no feito originário”. O magistrado destacou ainda que “a manutenção da custódia de pessoa inocente configura verdadeiro cárcere privado legitimado por falha estatal”. 11 dias de angústia Emocionado, Leonel relembra os momentos de terror e vergonha que viveu durante a prisão injusta. O artesão é casado e pai de cinco filhos, com idades entre 17 e 30 anos. Ele também cuida da mãe, de 71 anos. Ele é quem dá o sustento da família. “Meus filhos viram os policiais me levando, ficaram desesperados. Minha mulher chorava, não sabiam para onde eu tinha ido. Eu sou quem sustenta minha casa. Quando me levaram, ficou todo mundo perdido. Meu filho mais novo passou mal na escola, a mais velha pensou em largar a faculdade. Foi muito sofrimento”, disse. Durante os dias em que ficou preso, ele dividiu a cela com outros 10 detentos e relatou ter se sentido “humilhado e sem chão”. “Lá dentro, eu chorava pensando nos meus filhos. Eu sempre trabalhei, nunca fiz nada errado. Eu me senti humilhado e sem chão”, contou. Leonel é um dos fundadores da Associação Estadual Indígena Dunui Sannau, que atua na valorização da cultura e do artesanato Wapichana. Ele também trabalha como pedreiro e, no dia da prisão, fazia um serviço de construção ligado à própria associação. “Eu sou artesão, faço cerâmica, faço cultura. Sempre trabalhei para criar meus filhos e manter minha família. Nunca tive problema com Justiça. Por isso foi tão injusto o que aconteceu comigo”, contou. A associação divulgou uma nota pública em apoio ao artesão e afirmou que vai acompanhar o caso até que o Estado reconheça oficialmente o erro e repare os danos. Decisão judicial O habeas corpus que garantiu a liberdade de Leonel foi impetrado pelas advogadas Fernanda Félix Cordeiro e Luciane Xavier Cavalcante, que alegaram constrangimento ilegal. Segundo o pedido, o erro ficou comprovado por meio de divergências em todos os documentos oficiais: RG, CPF, filiação e data de nascimento. O Ministério Público de Roraima também se manifestou a favor da libertação, afirmando que o artesão “jamais foi denunciado, interrogado ou participou de qualquer ato da ação penal” e que sua prisão representava um “flagrante e patente constrangimento ilegal”. Na decisão que concedeu a liminar, o desembargador determinou a imediata expedição de alvará de soltura e encaminhou o caso à Corregedoria-Geral de Justiça para apuração administrativa. O magistrado também ordenou a correção dos registros judiciais para vincular o mandado ao verdadeiro condenado. Busca por reparação Leonel José da Silva, artesão em Boa Vista Arquivo Pessoal Depois de ser solto, Leonel reencontrou os filhos na saída da unidade prisional. “Quando me chamaram para sair, eu chorei. Meus filhos chegaram e me abraçaram. Foi um alívio, mas também uma dor muito grande lembrar de tudo o que eu passei”, contou emocionado. Ele afirma que agora busca justiça. “Quero limpar meu nome. Meu rosto e meu nome foram espalhados como se eu fosse um criminoso. Eu quero justiça e que o Estado reconheça o erro”, disse. Leia outras notícias do estado no g1 Roraima.

FONTE: https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2025/10/17/artesao-indigena-e-confundido-com-condenado-por-estupro-e-fica-11-dias-preso-por-engano-em-rr-humilhado-e-sem-chao.ghtml


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